23.11.09

Romances escritos no celular provocam mudanças no japonês
Formato curto e direto abre discussão sobre o futuro do idioma
Fonte: Rodrigo Villela, Estadão

Um ensaio publicado no jornal norte-americano The New York Times analisa uma nova mania no Japão, os romances para celular. Mas não é sobre isso que trata o texto “A tecnologia está emburrecendo o japonês?”. Segundo Emily Parker, a autora do texto, estes romances são escritos diretamente nos celulares, onde também são lidos. Com linguagem ágil, as matizes e sutilezas do japonês estariam virando coisa de antigamente.

Para os contrários à mudança, a dominância do inglês – aliada à internet – não está sendo levada a sério. Afinal, a simplificação do japonês teria começado após a Segunda Guerra, o que na época criou uma lacuna entre as gerações que presenciaram essa alteração. O premiado escritor Haruki Murakami (autor de, entre outros, Dance Dance Dance, publicado aqui pela Estação Liberdade), autor de vários best-sellers, afirma: “Se a língua quer mudar, deixe-a mudar. Toda língua é viva como um ser vivo, como você ou eu. E se está vivo, mudará. Ninguém pode parar isso”. E acrescenta: “As mudanças são para melhor ou para pior – e ninguém pode dizer se é melhor ou pior”.

Mas a mudança mais intensa na língua se deu via celular, onde autores, em sua maioria jovens mulheres, escrevem romances formados por sentenças curtas, geralmente histórias de amor.

O auge do fenômeno foi em 2007, quando cinco dos dez best-sellers japoneses eram desta natureza. Apesar do sucesso, autores como Murakami dizem não ter interesse nessa literatura. Outros argumentam que há espaço para leitores que se sentem confortáveis com a linguagem simples e também para os que não se satisfazem com simplicidade. Exemplo dessa diversidade do mercado é o lançamento do mais novo livro de Murakami no Japão (1Q84 - I), que em cerca de um mês vendeu um milhão de exemplares impressos.

Apesar da polêmica, de acordo com o ensaio, os japoneses estão lendo mais. E escrevendo mais também. Para um professor universitário consultado, “o tempo das cartas voltou”. Ele hoje recebe mais mensagens de alunos do que há 20 anos. As pessoas também estão usando mais o kanji. Em vez de decorar os ideogramas, hoje dá para digitar as palavras foneticamente e uma lista de caracteres aparece em pop-up, aí é só escolher a opção desejada.

Parker diz que “o japonês pode se tornar menos intimidador, encorajando muitas pessoas a desfrutar do prazer da leitura e da escrita”. E finaliza: “A tecnologia fará o Japão perder sua reputação de língua singularmente difícil? Possivelmente. Mas isso pode ser bom. O Japão, uma sociedade em envelhecimento, pode enfrentar um afluxo de imigração num futuro não muito distante. Uma linguagem mais acessível pode agilizar o processo de internacionalização do país”.

18.11.09

Video da Nokia sobre como será a utilização do celular em 2015


Celulares em rede vão ´aprender´com o usuário

Por Filipe Serrano*

Nada de câmeras, MP3 player, GPS, 3G, tela sensível ao toque ou Wi-Fi. Muito mais do que ter um amontoado de recursos tecnológicos, a grande novidade dos celulares do futuro será ter aplicações que facilitem a relação entre as pessoas. Os contatos estarão integrados a serviços online, possibilitando o desenvolvimento de novos usos para o telefone.

Imagine, por exemplo, que você faz uma viagem para Paris e registra em uma rede social, pelo celular, todo o roteiro, com os passeios que fez e os restaurantes que visitou. Quando um amigo sair em férias parisienses, poderá acompanhar o roteiro que você fez, também pelo celular. E quando ele apontar o telefone para a catedral de Notre Dame, vai surgir na telinha dele uma mensagem que você deixou lá, com uma dica, por exemplo, de um restaurante bom ali perto.

Se você pensar bem, hoje em dia já é possível fazer isso usando programas que traçam rotas e aplicativos de realidade aumentada, que permitem deixar mensagens virtuais em lugares reais. Mas o desafio dos fabricantes de celular daqui em diante será como transformar essa experiência em algo tão natural quanto uma conversa sobre viagens na mesa de jantar.

A vontade das pessoas de compartilhar experiências relevantes para cada situação, mais do que qualquer tecnologia, é que vai influenciar o desenvolvimento de novos recursos para celulares.

Na última semana, em evento sobre o futuro da mobilidade em sua sede, em Helsinque
( Finlândia), a Nokia apresentou um vídeo em que imagina como usaremos o celular em 2015. Todos os aparelhos estarão ligados a uma rede de informações online, que, a partir disso, vai gerar informações de acordo com o seu comportamento.

Com isso, será possível oferecer novos serviços, como mostrar a situação precisa do trânsito ou fazer buscas de acordo com a localização, com pessoas e com a data. Por exemplo, você poderá pesquisar o nome de um restaurante a que foi com um amigo específico no mês de junho. O celular também indicará notícias relevantes para cada pessoa, de acordo com a profissão e a localização.

"Uma vez que é difícil diferenciar criadores e consumidores de conteúdo, as pessoas vão precisar de um aparelho que seja mais interativo e inteligente, para tirar o melhor de cada momento. Em 2015 todos se beneficiarão do fato de estarmos conectados, em qualquer lugar, a qualquer hora", disse Heikki Norta, diretor de estratégias corporativas da Nokia, um dos poucos palestrantes a realmente falar do futuro da mobilidade com profundidade durante sua apresentação no evento.

Oskar Korkman, diretor de pesquisas sobre tendências de comportamento da Nokia, também explicou que a fragmentação das relações entre as pessoas - cada vez mais casuais, ainda que profundas, e ligadas a lugares e momentos específicos - aumentam a necessidade de compartilhar a intimidade e a experiência por meio de aparelhos eletrônicos, no caso, o celular ligado à web. Por isso, telefones e serviços online precisam se adaptar. "Não queremos empurrar os serviços para as pessoas. É importante que elas possam escolher como querem compartilhar suas experiências", disse Korkman.

É por isso que o fabricante aposta na extensa oferta de serviços e tem a meta de chegar a 2011 com 300 milhões de usuários de sua rede Ovi - um portal que serve para baixar aplicativos, compartilhar fotos, entre outros. Uma meta mais do que ousada, como se fosse possível chegar ao tamanho do Facebook em um ano.


*O repórter viajou a Helsinque a convite da Nokia

16.11.09

Celular e biometria devem substituir cédulas e moedas, dizem especialistasUm quarto da população do Quênia já usa celular como 'minibanco'.
Uso da impressão digital incluiria analfabetos no sistema financeiro.

Paula Leite
Do G1, em São Paulo

O brasileiro compra cada vez mais com cartão de crédito ou débito, faz transações bancárias e compras na internet e anda com menos dinheiro no bolso. Especialistas dizem acreditar que, com a evolução da tecnologia e a expansão dos pagamentos para o celular e até a biometria, o "dinheiro vivo", em papel ou moeda, pode estar com os dias contados.

Biometria e celular

Especialistas dizem que tecnologias como o celular e a biometria podem fazer com que seja possível fazer pagamentos eletrônicos em todos os lugares, tornando o dinheiro vivo cada vez menos importante. E isso pode ocorrer mesmo em países pobres, que podem "pular" a fase dos cartões de crédito, por exemplo.

Dave Birch, diretor da consultoria britânica Hyperion, prevê a expansão do uso do celular para pagamentos. “Para não precisarmos mais de dinheiro ou cartões, precisamos que os pagamentos eletrônicos estejam disponíveis em todo lugar, e não só nas lojas”, diz.

A Hyperion é especializada em estudar meios eletrônicos de pagamento e organiza anualmente o Digital Money Forum (Fórum do Dinheiro Digital), no Reino Unido. “Os celulares significam que ninguém precisa de dinheiro vivo. Os telefones vão se tornar um terminal pessoal de pagamentos, com o qual todos podem pagar e receber pagamentos de todos”, diz Birch.

Para demonstrar que a ideia pode dar certo, o especialista cita o caso do Quênia, nação africana onde existe o sistema M-Pesa. Quem tem celular da operadora Safaricom pode abrir uma "conta" M-Pesa, fazendo depósitos em dinheiro em um dos 12 mil agentes autorizados do sistema, como lojas da operadora, postos de combustível e supermercados.

Depois, o dinheiro pode ser sacado nesses mesmos locais, transferido a outros usuários de celular ou usado para pagar contas e comprar produtos. Não é preciso ter conta no banco nem ter o crédito aprovado; para se cadastrar é só apresentar um documento de identidade. Todas as transações são feitas no menu do aparelho celular ou por SMS.

Segundo a Safaricom, o M-Pesa tem 7,5 milhões de usuários (em um país de cerca de 31 milhões de pessoas) e já foram transferidos 230 bilhões de shillings quenianos (R$ 5,3 bilhões) pelo sistema desde seu lançamento, em 2007.Recentemente, o serviço se expandiu para permitir envio de dinheiro de imigrantes quenianos do Reino Unido para parentes que ficaram na África. Com o sucesso, o M-Pesa "migrou" para a vizinha Tanzânia em 2008, onde já contabiliza 1 milhão de usuários.

Experiência no Brasil

No Brasil, o pagamento por celular também já existe: a Visa tem um programa piloto para pagamento de compras usando o próprio aparelho, que só precisa ser aproximado de um terminal para completar a transação.O aparelho pode ser associado a um cartão de crédito, débito ou cartão pré-pago. "Apostamos que haverá uma nova geração que vai preferir fazer compras por meio do celular, assim como há uma geração que prefere comprar pela internet", diz Percival Jatobá, diretor-executivo de produtos da Visa.

Outro exemplo do uso do celular como meio de pagamento é o serviço Paggo, da operadora Oi. Trata-se de um sistema que permite compras em lojas físicas e pela internet com confirmação por SMS.

Inclusão

Martinho Isnard Ribeiro de Almeida, professor da FEA-USP (Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo), acha que a solução para expandir os pagamentos eletrônicos é criar contas bancárias mais simples.“Os maiores custos para os bancos são a manipulação do dinheiro e o crédito. Portanto, para reduzir o custo, os bancos poderiam oferecer contas com um cartão com chip só com função de débito, sem saque ou crédito”, diz ele.E para incluir até mesmo os analfabetos, a verificação, hoje feita normalmente por senha, poderia usar a biometria, como a leitura da palma da mão, por exemplo, diz o professor da FEA-USP.

Birch diz que a inclusão dos mais pobres é muito importante, já que o dinheiro vivo “discrimina contra os pobres”, segundo ele. “Os ricos podem pesquisar na internet para comprar coisas mais baratas e pagar suas contas eletronicamente.
Já os pobres têm que pegar um ônibus para ir pagar suas contas”, diz o especialista.
Mesmo para valores pequenos, os especialistas dizem que é vantajoso economicamente eliminar as cédulas e moedas. No Brasil, o Banco Central já gastou R$ 762 milhões em 2009 para produzir cédulas e moedas. No início de novembro, havia R$ 112,12 bilhões em circulação em cédulas e moedas no país.